terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Quando a cura não é o objetivo da medicina





Nem todos sabem, mas quando um paciente descobre que possui uma doença que oferece risco à vida, ao mesmo tempo em que uma equipe médica inicia um tratamento para tentar curá-la ou retardar seu avanço, outra equipe que envolve médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e diferentes profissionais passa, ou pelo menos deveria passar, a acompanha-lo com outras intenções. O objetivo deles não é buscar a cura, mas sim oferecer o máximo de apoio e conforto para que tanto o paciente quanto sua família passem pelo tratamento ou lidem com o advento da morte. Essa equipe multiprofissional é a responsável pelos cuidados paliativos, área da saúde que lida muito de perto com a dor e com o sofrimento e que luta para ganhar um espaço maior nas redes de saúde e o reconhecimento da legislação brasileira.





História

Não é possível determinar quando surgiram os cuidados paliativos. Desde a Idade Média existem lugares que têm como objetivo proteger e aliviar o sofrimento de doentes, ainda que não haja intenção de alcançar a cura. A concepção moderna desses cuidados, no entanto, surgiu com a britânica Cicely Saunders. Formada em assistência social, enfermagem e medicina, Saunders fundou o primeiro centro de referência em cuidados paliativos, em 1967, o St. Christopher’s Hospices, localizado em Londres. A história conta que Cicely Saunders não se conformava com o fato de que médicos abandonassem seus pacientes em fase terminal, dizendo que nada mais poderia ser feito. Ela ficou conhecida pela máxima “ainda há muito a ser feito”, que é até hoje uma espécie de lema para quem trabalha com cuidados paliativos. Foi de Saunders a ideia de unir uma equipe multiprofissional que cuidasse tanto do tratamento médico, quanto do apoio espiritual e psicológico a pacientes com risco de vida.

O conceito de cuidados paliativos já está bastante consolidado fora do Brasil, inclusive em países da América Latina, como a Argentina, onde já há uma legislação muito desenvolvida nesse ponto. Mesmo lá fora, a regulamentação da especialidade médica é recente em relação à história da medicina, tendo começado a se organizar a partir da década de 1960. Por aqui, as coisas ainda andam com lentidão. Apenas no ano passado esse tipo de tratamento foi reconhecido como especialidade médica e ainda não há no país um curso de residência voltado exclusivamente para formar médicos paliativistas. Em todo o Brasil, apenas duas faculdades incluíram os cuidados paliativos em seus cursos: a Universidade de Caxias do Sul e a FMIt (Faculdade de Medicina de Itajubá), em Minas Gerais, que foi a primeira instituição de ensino brasileira a implantar, em 2010, a disciplina de Tanatologia e Cuidados Paliativos na grade curricular.

Não é apenas por falta de uma política definitiva de cuidados paliativos que essa área é pouco acessível aos profissionais em formação. A Dra. Maria das Graças Mota Cruz de Assis Figueiredo, professora assistente da disciplina em Itajubá, afirma que ainda há muita resistência por parte dos próprios profissionais porque a busca pela cura é um paradigma vigente na cultura ocidental. “Isto tem origem no medo que todos temos da morte, em parte devido aos valores materialistas pelos quais a sociedade moderna pauta as suas ações. As faculdades de medicina, então, apenas repetem a tentativa de negar a morte, esforço que faz toda a sociedade”, afirma a médica.

Fonte:http://jpress.jornalismojunior.com.br/2012/10/cura-nao-objetivo-medicina/

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