sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Excesso de remédios prejudica idosos


Por muitos anos, o paciente de 77 anos controlou sua diabetes tipo 2 tomando doses diárias de uma droga que diminui o açúcar no sangue. Como muitos idosos, hoje ele enfrenta diversos problemas médicos, incluindo alta pressão sanguínea e doença renal severa. Ainda assim, com quatro medicamentos vendidos sob prescrição médica, mais Tylenol para a dor na lombar, o paciente vai razoavelmente bem.

Ah, e ele é um exemplo hipotético, inventado por pesquisadores da Universidade de Michigan e pelo Sistema de Atenção à Saúde de Veteranos, em Ann Arbor. O caso fictício foi enviado para profissionais de atendimento básico em centros médicos com perguntas sobre seu tratamento.

Os pesquisadores acreditavam que a maioria das 600 pessoas consultadas sobre o caso —médicos e enfermeiros— reconheceria que o paciente corria risco de desenvolver uma taxa perigosamente baixa de açúcar, conhecida como hipoglicemia. Mas não. Cerca da metade deles disse que não se preocupava com danos causados pelo regime de tratamento.

Há cada vez mais evidências de que idosos com diabetes, hipertensão e outras condições deveriam ser tratados de forma menos agressiva. No entanto, como demonstraram este e outros estudos, transmitir essa mensagem aos médicos é uma tarefa difícil.

“Em nosso sistema de saúde, temos mais medo de deixar de fazer algo do que de fazer demais”, disse Jeremy Sussman, pesquisador no hospital de Ann Arbor.

Pelas diretrizes atuais, a maioria dos pacientes idosos com diabetes não precisa fazer seu nível de açúcar cair drasticamente. As leituras da pressão sanguínea também poderiam subir até 150 milímetros de mercúrio para pressão sistólica. A meta anterior era mantê-la abaixo de 140.

Para complicar a questão, um grande teste de controle intensivo de pressão sanguínea relatado no “The New England Journal of Medicine” descobriu que pacientes aleatórios submetidos a uma meta extremamente baixa de pressão —120 milímetros de mercúrio ou menos— na verdade tiveram menores índices de mortes. O benefício foi verificado em pacientes com mais de 75 anos.
No entanto, o novo teste não incluiu pessoas com diabetes, que têm maior risco de problemas cardiovasculares. Um estudo de 2008 descobriu que terapia intensiva para reduzir a glicose no sangue, na verdade, resultava em maior mortalidade.

Em idosos com diabetes, por exemplo, manter o açúcar no sangue muito baixo pode fazer mais mal do que bem. “As pessoas podem se sentir fracas, que vão desmaiar”, disse Tanner Caverly, principal autor da pesquisa de Michigan, publicada em “JAMA Internal Medicine”. Se ocorrerem, tais desmaios e quedas podem ter consequências devastadoras.

Um grande estudo feito nos EUA por Sussman e colegas, publicado no “JAMA Internal Medicine”, revelou que a desintensificação raramente ocorre entre pacientes com mais de 70 anos. Revendo dados de mais de 211 mil pacientes, os pesquisadores descobriram que menos de 19% daqueles com pressão muito baixa tinham reduzido sua medicação. Somente 27% daqueles com açúcar muito baixo o haviam feito.

“Houve um enorme esforço para evitar o subtratamento”, disse Sussman. “Agora talvez muitas pessoas estejam sendo supertratadas.”

Muitos idosos ainda não aproveitam as vacinas, que estão entre as proteções à saúde mais simples. Além disso, os americanos mais velhos são submetidos a colonoscopias e mamografias em excesso. No ano passado, um estudo descobriu que mais da metade dos moradores de lares de idosos com demência avançada, uma doença terminal, recebiam medicamentos de valor questionável; cerca de um quinto tomavam estatinas para reduzir o colesterol.

“Quando você envelhece, os benefícios diminuem e os riscos aumentam”, disse Sei Lee, da Universidade da Califórnia em San Francisco. “O que era bom para você aos 55 anos pode ser ruim aos 75.”

Às vezes, os pacientes resistem. Sussman lembrou de um veterano de cerca de 80 anos que se orgulhava do modo como havia administrado sua doença, testando seu sangue várias vezes por dia, injetando insulina, mantendo a glicose abaixo de 7. Mas ele havia perdido peso com a idade, e Sussman sugeriu que ele parasse com as injeções de insulina e começasse a tomar uma pílula. O homem experimentou, mas não se sentia confortável com o novo tratamento. Então, voltou a tomar injeções.

Muitos médicos, por enquanto, podem não sugerir mudanças de tratamento. “Uma coisa é descobrir algo diferente e animador e fazê-lo”, refletiu Sussman.


“É mais difícil emocionalmente olhar para algo que você fez por muito tempo, pensar que talvez não seja tão bom e parar.”


Fonte:http://nytiw.folha.uol.com.br/#/folha/content/view/full/33334?cmpid=facefolha

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